Um buraco no coração

O meu cão morreu. Mas não morreu porque lhe faltaram as forças para lutar pela vida. Isso nunca! O Black era um verdadeiro guerreiro e o que mais queria era viver. O meu cão morreu porque este maldito cancro o minou e destruiu por dentro e por fora. Como sempre, fui mais fraca do que ele e não aguentei mais vê-lo a degradar-se dia após dia.

O meu cão morreu. Agora, só o vazio. O vazio e todos os ensinamentos que ele me deixou. Há mais ou menos um ano e meio o Black foi operado a uma torção do estômago. Foi um milagre termos chegado a tempo ao veterinário. Levou quase 30 pontos. Nunca se queixou. Meio ano depois foi-lhe diagnosticado cancro. Tirou o tumor que tinha nas costas e na semana seguinte teve de voltar a ser operado, desta vez para tirar o baço. Nunca se queixou. Em Agosto, começou-lhe a crescer um tumor no focinho. Mais um tumor. Menos de dois meses depois estava desfigurado, cego do olho esquerdo e carregado de tumores nas costas. Nunca se queixou. Nunca o vi a ganir, a chorar nem a recusar os tratamentos. Nunca foi agressivo nem se mostrou distante. Nunca deixou de comer, nunca esmoreceu, nunca aninhou. A vontade de viver do Black superava todas as dores que carregava.

O meu cão morreu. Mas ensinou-me a dar valor às pequenas coisas. O Black sempre caminhou ao meu lado… adiantava-se uns passos mas, quando via que eu estava longe, parava e esperava por mim. Ele estava lá, feliz por me ver, sempre que eu chegava a casa… mesmo que eu tivesse saído só por dois minutos, não importava. O Black estava lá.

O meu cão morreu. A três dias de completar os 8 anos. É incrível como os cães nascem a saber amar de uma forma tão intensa que nós, humanos, levamos uma vida inteira para aprender. O Black sempre me deu tudo o que podia sem nunca esperar nada em troca, nem mesmo um biscoito, ele não era desses. Dedicou-se a mim de alma e coração e foi-me fiel até ao último minuto.

O meu cão morreu. Eu estava lá, não podia ser de outra forma. Tinha, de alguma forma, de lhe agradecer tudo o que ele fez por mim nestes curtos anos de vida. Morreu sereno, sem um ladrar, sem um ganir… nada. De alguma forma, consola-me pensar que ele sabia que tinha chegado a sua hora e que fiz tudo aquilo que podia para o manter comigo. Mas a vida é tremendamente injusta e são sempre os bons que morrem primeiro.

O meu cão morreu. Morreu ontem nos meus braços e enterrei-o hoje no jardim da nossa casa. No lar que ele sempre conheceu e amou. Dizem-me que ganhei um anjo e que ele estará sempre a olhar por mim. Dizem-me aquilo que eu digo aos outros quando as coisas não são comigo. Mas bem sei… falar é fácil…

O meu cão morreu. E dói… dói muito. O Black era a melhor parte de mim. Aliás, foi ele que conquistou a melhor parte de mim. E eu dei-lha, sem medos nem receios porque ele sempre a mereceu.

O meu cão morreu. Ganhei um buraco no coração e um vazio na alma. As saudades são muitas e não vão passar nunca, eu sei. Mas o Black ensinou-me a amar sem restrições nem preconceitos. Mostrou-me o que é a simplicidade, a bondade e a paciência. Amar-te-ei sempre, meu fiel e bom amigo.

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