Saudade reprimida

Saudade é coisa ruim mesmo. E, como tudo o que é ruim, dura demasiado.

Sou saudosista por natureza, é genético, está-me no sangue como se costuma dizer. Agarro-me demasiado às pessoas e aos momentos. Às memórias e aos sonhos. Ao que foi e ao que poderá ser um dia. Admito, com tanta viagem pelo passado e pelo futuro esqueço-me, a grande maioria das vezes, de viver o presente. Mas sou mesmo assim… já não é defeito, é feitio.

Tenho saudades dos beijos e dos abraços há tanto tempo partilhados, mas também as tenho dos que estão para vir. Tenho saudades dos sorrisos, melhor, das gargalhadas, aquelas que fazem doer a barriga e até fazem emagrecer segundo consta! Saudades das bolas de berlim na praia, dos batidos ao pôr do sol e das caipirinhas numa noite de festa. Saudades da música alta, das altas horas e das horas sem tempo. Do tempo sem nada dentro, do tempo tão livre e tão simples. E tão bom… Como é bom ter tempo sem nada dentro. Sem horas marcadas, sem compromissos, sem reuniões e sem trabalho. Tenho saudades desse tempo. Do tempo do chorar de tanto rir, do pegar no carro e ir, do rumar sem rumo e do correr sem meta. Saudades da brisa quente, do cheiro do mar e da terra molhada. Tenho saudades. Já disse, sou uma  saudosista do pior que há e, para mim, esta lista não acaba nunca. Tenho saudades dos finos com caracóis, das francesinhas, das bifanas das festas populares e dos cachorros quentes do final da noite. Dos cafés que, muito mais do que “cafés” são partilhas. De histórias, de surpresas, de novidades… são partilhas de vida. Saudades do tocar a alma, com palavras e com silêncios. E com abraços apertados que tranquilizam o espírito e enchem o coração. Tenho saudades dos momentos de inspiração e dos de diversão. E ponto. Chega. Chega de saudades porque, daqui a nada, a lágrima cai de tristeza e isso sim, é coisa de que não gosto.

Sou mulher saudade, eu sei. E, por isso, quer queira ou não, por mais que me esforce para nem sequer pensar nisto, é-me impossível. Vivo com ela reprimida no coração. Sufoca, esmaga, rói-me as entranhas e chega-me à alma.

A saudade é coisa ruim mesmo. Inventam tanta coisa… por acaso não terão já criado um remédio para este mal? Um xarope anti-saudade, vá, também pode ser em comprimidos se for mais fácil. Qualquer coisa. Qualquer coisa que me leve esta saudade.

Patrícia Silva

Manias do coração

Preciso de ti. E preciso mais do que nunca. Mentira… preciso de ti como sempre precisei. Ontem, hoje e amanhã. Preciso e precisarei… de ti. Só de ti. E não consigo… por mais que tente tapar o buraco que deixaste ou sarar a ferida que abriste… não consigo. É impossível e estou prestes a desistir.

Sei que me sentes de alguma maneira. Não me perguntes como, quando ou porquê… mas sei que sim. Sei que a qualquer momento te posso tocar a alma, mesmo estando longe, bem longe… E ninguém entende nem nunca poderá entender. É mais do que corpo e sentimento. É alma, é karma, é calma. É tudo o que lhe quiserem chamar. Podem tentar entender… nunca conseguirão. É só nosso. Única e exclusivamente nosso. São manias do coração.

E acredita. Por mais que não queiramos e tentemos fugir, é para sempre. Mesmo que o presente não se faça presente e o futuro não chegue… se não for agora, será numa outra vida. Será um dia. Um dia. Sei que sim. Aliás, sabemos que sim.

“É que há coisas que o coração só fala para quem sabe escutar”. E por mais surdos que estejamos agora, já o ouvimos.

Patrícia Silva