É esta noite. Sim, é já esta noite. Quando todos estiverem a dormir, vou sair de mansinho, pé ante pé. Vou deslizar pela escuridão sem fazer barulho. Ninguém pode ouvir. Não posso correr esse risco. É hoje, tem de ser hoje. Prometo.
É esta noite. Sim, é já esta noite. Quando a cidade estiver a dormir, vou entrar no carro e conduzir sem destino. Sem destino e sem medo. Porque ainda que vá sem rumo, conheço bem o caminho. O caminho de volta a casa. O caminho que me leva até ti. Conseguiria encontrar-te ainda que estivesses do outro lado do mundo. É assim, sempre foi assim.
É esta noite. Sim, é já esta noite. Quando a madrugada cair, vou encontrar-te. E, nesse instante, nessa milésima de segundo, o tempo vai parar. Abraçamo-nos. Um minuto, uma hora, uma noite. A eternidade. Nesse instante o tempo é nosso. O passado, o presente e o futuro. Tudo nos pertence e nada mais importa.
É esta noite. Sim, é já esta noite. Quando o sol nascer vamos estar no cimo da montanha. Abraçados. Sentir o acordar da natureza. Ouvir o silêncio e cheirar a manhã. Vamos ver o céu a pintar-se de laranjas e azuis. E vamos sorrir, rir e até mesmo chorar… de alegria e plenitude.
É esta noite. Sim, é já esta noite. Vamos, sai de casa. Corre, não percas mais tempo. Tem de ser hoje. Vamos iluminar as noites e colorir os dias. Não tenhas medo. Vamos fazer o que quiseres. Vamos. Ainda aí estás?
Já percebi, afinal não é esta noite. Avisa-me quando esta (minha) noite chegar para ti também.
Patrícia Silva
sentidos.despertos 