A vida era bem mais simples e bem melhor se fosse feita de contos de fadas e finais felizes. Se as coisas fossem assim sabíamos sempre que apesar de todos os momentos menos bons o final ia ser sempre feliz, pois está claro.
É verdade, todos os contos de fadas têm os bons e os maus. Mas no meu conto de fadas não existem os maus… bem, eles até aparecem de vez em quando… mas eu estou na equipa dos bons e, como é evidente, sou a protagonista, a estrela, a princesa, a rainha, a heroína… chamem-me o que quiserem, sou a maior de qualquer maneira. Vou facilitar as coisas, vou-vos contar um segredo ultra secreto… Estão preparados? Têm de prometer não contar a ninguém.
No meu conto de fadas sou uma princesa heroína. Primeiro, sou princesa porque tenho um príncipe encantado que dá a vida por mim, tenho a certeza. Só ainda não me veio buscar de cavalo… nem me levou a viajar pelo Mundo todo. Ai o sacana, da próxima vez que estiver com ele já vai ouvir. Mas adiante… Uma das coisas de que mais gosto é poder acenar a toda a gente e toda a gente me sorri carinhosamente. Alguns até levam cartazes com o meu nome escrito… as pessoas gostam mesmo de princesas (ainda bem que sou uma). Segundo, sou uma heroína porque não acho piada nenhuma a essas princesas vaidosas que passam a vida a fazer compras, a maquilharem-se, no cabeleireiro e a passear com o príncipe (se bem que o meu anda a falhar, mas isso é uma conversinha que vou ter com ele mais tarde). Por isso mesmo, decidi que, para além de princesa, também queria ser heroína… E como eu é que mando também o sou! É porreiro, deviam experimentar! Já salvei muitas pessoas. Ah! E animais já me ia esquecendo. Mas tenho um pequeno problema… É que o meu livro ainda está no inicio, ainda tem poucas páginas e, poi isso, ainda não fiz tantos salvamentos quanto gostaria. Mas vou fazer, tenho a certeza.
No meio disto tudo há outro problema, mas este é grande. Às vezes é mesmo difícil conciliar o tempo entre a minha vida de heroína e a de princesa. É uma canseira… Mas, como sou a protagonista, tenho de me desenrascar. Sim porque o papel principal desta história é meu, não posso (nem quero) esperar que alguém escreva as páginas do meu livro… quem escreve o meu conto de fadas sou eu. E sou eu que tiro as fotografias que marcam os grandes momentos da história, sou eu que escolho a melhor fotografia para a capa, sou eu que escrevo a sinopse e sou eu que me apresento. Ah! E sou eu que decido o número de páginas que o meu livro vai ter. É meu, e ponto.
Se calhar… fui um bocadinho agressiva ao dizer isto desta maneira. É claro que, ao longo da história, entram mais personagens e algumas têm um papel quase tão importante como o meu, quase! E essas pessoas influenciam-me e, muitas vezes, até sigo as suas opiniões. Mas, lá está… Sou eu que sei se quero ou não seguir aquilo que as pessoas me dizem. E o que isso tem de bom, tem de mau. Porque, como é tudo meu, as consequências dos meus atos também vão recair sobre mim.
Vou-vos contar outro segredo… Eu adoro ser uma princesa heroína, a sério que sim. Mas às vezes canso-me e dá-me vontade de deixar que outra pessoa escreva o conto por mim. Eu dava-lhe a caneta e essa pessoa (que tinha de saber escrever bem) tomava as decisões por mim. Às vezes é tão difícil saber qual o caminho a seguir. Eu sei eu sei… O final desta história vai ser feliz, são assim as histórias em que entram princesas… Mas há alturas em que me sinto tão triste e tão confusa que não consigo perceber (não consigo mesmo) como é que isto vai acabar bem.
Uma vez li um livro que não era de princesas. Já li muitos, aliás. Acho que existem cada vez menos livros de princesas… Porque será? Será que já ninguém acredita no amor e em contos de fadas? Mas adiante… Esse livro que não era de princesas contava a história de uma avó e de uma neta. Só me lembro de uma parte, já o li há muito tempo. Bem, a neta estava confusa e a avó disse-lhe que quando ela se sentisse perdida a melhor coisa a fazer era sentar-se, onde quisesse e por quanto tempo quisesse. O segredo era estar em silêncio… até ouvir a voz do coração e seguir aquilo que ele lhe dissesse. Eu cá acho que tenho de dar uns comprimidozinhos ao meu coração porque ou ele está afónico ou então não o tenho conseguido ouvir ultimamente.
Bem, como às vezes as princesas também precisam de uns conselhos. Vou seguir o que alguém escreveu nesse livro que li. Pode ser que essa pessoa até tenha razão. Vou-me sentar debaixo da maior árvore que tenho no meu enorme jardim. É a minha favorita, às vezes até parece que fala comigo (mas não pode, porque essa já era outra história, a da Pocahontas). Vou-me sentar e ficar lá quanto tempo me apetecer, não se esqueçam que a história é minha. Ou se calhar… vou ficar só até ao meu coração me falar. Espero que seja rápido…
Patrícia Silva